Texálcool, a Caravana da Economia

A história é bastante conhecida: no início dos anos 70, a crise do petróleo mudou o cenário da indústria automotiva no mundo. Com a forte alta do valor do barril de petróleo pelos países da OPEP, era hora de priorizar a economia de combustível. A venda dos carros com motores maiores e de alto consumo começou a sofrer forte queda. Mesmo em um mercado como o dos Estados Unidos, os modelos menores ganharam espaço. Isso foi comentado aqui recentemente no Test Drive do Dasher. Além disso, depois de décadas de certo esquecimento, o mundo voltou a procurar alternativas aos combustíveis fósseis.

No Brasil, em 1975 foi criado o Programa Nacional do Álcool. Ou simplesmente Proálcool. O programa visava a substituição gradual da frota nacional movida à gasolina para o uso do álcool combustível. Sem alongar muito o assunto, mas até mesmo por conta da adaptação relativamente simples dos motores e da própria rede de abastecimento, além da área disponível para plantio no Brasil, o álcool aparecia como a alternativa mais viável para substituir a gasolina.

Em 1979, o primeiro carro movido exclusivamente à álcool no mundo entrava no mercado: o Fiat 147. E, por favor… Estamos falando de produção em série. Apesar da existência do Dodge 1800 movido à álcool, até hoje em exposição do Museu Aeroespacial Brasileiro de São José dos Campos (SP), e da extrema simpatia deste que vos escreve para com o “Dodginho”, este título não cabe a ele.

Ainda se falássemos de carros de teste movidos à álcool, o pioneiro oficialmente conhecido seria um velho Ford A, que em agosto de 1925 participou de uma corrida no Circuito da Gávea, no Rio de Janeiro, e posteriormente de algumas viagens, incluindo Rio x São Paulo.

O pioineiro: Ford A movido à álcool, realizando testes em 1925.

A partir do início das vendas do Fiat 147 e o lançamento de outros modelos movidos pelo combustível vegetal, era natural que o consumidor se mostrasse receoso com a nova tecnologia. Não apenas com a durabilidade e confiabilidade mecânica, mas também pela ainda pequena rede de abastecimento. Portanto, era o momento de mostrar que este combustível era plenamente viável para o uso normal.

A caravana Texálcool

Caravana Texálcool - Matéria do Diário da Tarde (PR) do dia 16 de julho de 1980
Matéria do Diário da Tarde (PR) do dia 16 de julho de 1980

Uma das ações de marketing realizadas neste período foi a “Caravana da Economia Texálcool”, promovida pela Texaco. Comemorando 65 anos no Brasil, uma caravana com 4 carros movidos à álcool, sendo eles Passat, Fiat 147, Opala e Corcel II, percorreu 65.000km. O abastecimento foi realizado em 65 cidades. Durante a viagem, diversos pontos de abastecimento de álcool foram inaugurados na rede Texaco.

 

A viagem foi iniciada em São Paulo no dia 14 de julho de 1980, passando por outros estados da região Sudeste, além do Sul, Centro Oeste e Nordeste. Durante o percurso, os carros também utilizaram os óleos lubrificantes da empresa. O Passat 4 portas utilizado, pela ausência dos frisos laterais e a aparente falta de apoio de cabeça no banco traseiro, provavelmente era da versão LS.

Anúncios publicitários da caravana Texálcool, de julho e agosto de 1980. Fonte: Diário do Paraná e Jornal do Brasil
Anúncios publicitários da caravana Texálcool, de julho e agosto de 1980. Fonte: Diário do Paraná e Jornal do Brasil

 

O detalhe do Passat 4 portas utilizado na caravana Texálcool. Fonte: Diário do Paraná
O detalhe do Passat 4 portas utilizado na caravana Texálcool. Fonte: Diário do Paraná

A cada cidade visitada, uma manchete nos jornais locais. A matéria abaixo é do “Jornal de Caratinga”, cidade mineira distante pouco mais de 300km de Belo Horizonte. Segundo a matéria, a caravana passou inicialmente no dia 15 de julho, ou seja, no dia seguinte ao início de viagem, para abastecimento. E novamente no dia 25, no percurso de volta.

Jornal de Caratinga - 28 de julho de 1980
Jornal de Caratinga – 28 de julho de 1980

Pelas informações encontradas, a viagem completa levou cerca de 1 mês. Isso mostrou o uso severo de motores à álcool das quatro grandes montadoras do país naquela época. E mesmo sob essas condições, os carros completaram o percurso no tempo previsto. Após o fim da caravana Texálcool, a empresa aproveitou os bons resultados nas campanhas publicitárias de seus lubrificantes.

Anúncio de óleo Havoline em 1980, exaltando a eficiência do lubrificante em motores à álcool.
Anúncio de óleo Havoline em 1980, exaltando a eficiência do lubrificante em motores à álcool.

Os postos Texaco, muito presentes em todo o Brasil, acabaram virando história. Em 2008, a rede de postos foi adquirida pelo grupo Ultra. Com isso, gradativamente a bandeira destes postos foi trocada pela marca Ipiranga.

Sobre André Grigorevski

Fundador da Home-Page do Passat e presidente do Passat Clube - RJ.

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