A quantidade de concessionárias VW no Brasil já foi muito maior do que é atualmente. Pelo menos em proporção. Com o Brasil passando por algumas décadas com apenas quatro grandes montadoras disputando o mercado, nada mais natural que o cenário com várias novas montadoras faça com que os estabelecimentos comecem, também, a tornar-se mais variados. Não é algo exclusivo da empresa alemã, já que as outras marcas tradicionais também perderam espaço. Porém, aquela concessionária Volkswagen de onde seu Passat saiu 0km, possivelmente não existe mais.
Uso como exemplo a minha cidade de Niterói, que abrigava um bom número de autorizadas. Puxando rapidamente pela memória, havia a Guanauto, Scala (anteriormente chamada Stal, a Scala durante um período também vendia veículos Gurgel e possuía uma filial), Anasa, Fluwagen e por aí vai… Nenhuma destas existe mais. Algumas das antigas instalações foram consumidas pelo crescimento imobiliário da cidade e viraram prédios residenciais. Outra, se tornou um mercado. E, na cidade, a única concessionária Volkswagen atualmente se resume a duas filiais de uma mesma rede e só.
A mesma coisa aconteceu nos grandes centros. O Rio de Janeiro mesmo viu fechar antigos nomes como a Wilsonking, Bittig, Gávea, Tianá, entre tantos outros. E muitas cidades do interior, não apenas no Rio de Janeiro, mas também em outros estados, perderam a única concessionária Volkswagen que atendia aos seus moradores.
Tive a decepção, por exemplo, de ir até a antiga Catauto, concessionária Volkswagen da cidade mineira de Cataguases, onde eu passei muitos dias de férias por conta de parte da família que lá morava, e vê-la fechando. Nesta mesma autorizada, eu havia ido com meu pai, ainda pequeno, em meados dos anos 80, para procurar um dos suportes laterais do seu Passat LS 80 (foi quando eu aprendi que esta peça é mesmo frágil).
Lá por 2003 ou 2004, estava na cidade quando passei em frente a Catauto e as portas já se encontravam fechadas, mesmo com alguns carros ainda lá dentro. Alguns funcionários estavam organizando as coisas próximos ao portão e, em busca de uma palheta para o Polo Classic que tínhamos na época, perguntei se não abririam naquele dia. Um deles, com olhar triste, apenas disse “A Catauto fechou”. Não é uma história rara. Aconteceu em diversas regiões do Brasil, sendo a mais famosa delas a Comercial Gaúcha, da cidade de Estrela, no Rio Grande do Sul.
A concessionária Volkswagen abandonada em Miguel Pereira – RJ
Uma parcela destas lojas já não mais existem. Outras ainda mantém o prédio desocupado, como a Utivesa, que mostramos em uma imagem do Google Street View neste post, e que não temos notícias atuais. E este é o caso também da Job Leal Filhos Ltda., antiga concessionária Volkswagen da cidade de Miguel Pereira, no interior do Rio de Janeiro.
Apesar de não termos o ano correto em que a empresa entrou oficialmente como autorizada VW, a Job Leal Filhos Ltda. já constava do livreto da Rede de Assistência Técnica Volkswagen editado em setembro de 1971, que faz parte do meu acervo. Não conseguimos informações sobre até que ano a concessionária manteve suas atividades. Porém, um processo trabalhista de 2006 pode indicar aproximadamente a época do seu fechamento.
Tive a oportunidade de conhecer o antigo prédio da Job Leal Filhos quando estive em Miguel Pereira para um evento de carros antigos, em outubro de 2013. Na ocasião, não pude ir de Passat, mas por sorte eu tinha a companhia do amigo André Simas e seu LS 79/80, que não poderia faltar nas imagens em frente ao estabelecimento. O antigo letreiro externo pintado na fachada ainda se mantinha razoavelmente visível e imagino que durante algum período ele foi coberto por um letreiro mais moderno, no padrão que uma concessionária Volkswagen deveria manter nas últimas décadas.
No seu interior, móveis antigos, que certamente eram da época de funcionamento da Job Leal Filhos, misturados a outros que parecem mais modernos e que possivelmente não eram do estabelecimento. Em um balcão, a grande curiosidade é o adesivo de Carro do Ano que o Passat recebeu pela revista Auto Esporte em 1975!
Pelo que foi possível observar do lado de fora da antiga autorizada, pouco sobrou lá dentro relacionado a carros, além dos móveis. No mesmo balcão do adesivo, repousa um farol de algum carro moderno e uma ventoinha com sua respectiva carcaça. Ainda no balcão, muitos livros e cadernos, que despertam a curiosidade sobre a possível relação com as atividades da empresa. Porém, o único caderno aberto cujo zoom da câmera foi suficiente pra ler o conteúdo da página, indicou tratar-se apenas de um exercício de um curso de inglês.
De resto, muitos móveis, artefatos como pias e portas, aparelhos antigos de ar condicionado – ironicamente, incluindo um Philco-Ford – e o que restou de um símbolo da Volkswagen em acrílico. A construção, que exibia uma placa de aluguel, não se encontrava em boas condições. Já havia perdido, por exemplo, alguns pedaços de sua marquise, além de demonstrar falta de manutenção no que foi possível ver do seu interior.
Em uma rápida busca, localizamos dois CNPJ diferentes para a empresa, sendo um para o comércio de peças e outro para o comércio de automóveis. O primeiro foi criado em 1970 e o segundo em 1977. Curiosamente, apesar da situação cadastral delas ter a última atualização a mais de 10 anos (a última em 2005), ambos permanecem ativos na Receita Federal.
Não tive mais a oportunidade de visitar a cidade de Miguel Pereira. Portanto, a única atualização que consegui buscar foi através do Google Street View, cuja última imagem no local é de 2015. E, fora a ausência da placa de aluguel, o tempo continua parecendo não passar por lá. Se alguém da região tiver notícias ou mais informações para enriquecer a história da concessionária, por favor deixe aqui o seu comentário.
Boa noite André. Recebi essa reportagem de um grande amigo meu e achei muito interessante… Além de interessante fiquei muito emocionado pois me chamo Manoel Job Leal Neto, neto e filho dos proprietários da Job Leal e filhos LTDA. Passa um filme na minha cabeça. Meu avô, Manoel Job Leal, fundador da empresa já faleceu, mais meu pai, Manoel Job Leal Filho preserva muitas coisas da empresa, raridades inimagináveis. Quem sabe um dia teremos oportunidade de nós encontrarmos… Grande abraço.