Os computadores de bordo ficaram famosos no Brasil através da Chevrolet, no final dos anos 80. Modelos como o Monza Classic traziam próximo ao rádio um pequeno aparelho que indicava, além das horas, a autonomia do carro com o volume de combustível ainda no tanque, temperatura externa, além dos consumos médio e instantâneo. Algo avançado para o mercado brasileiro daquela época, e que foi se popularizando com o passar dos anos. Porém, no fim dos anos 70, a empresa Wattecnica idealizou e produziu um acessório que chamou de Consumômetro, que tinha como importante função, indicar o consumo real de combustível pelo veículo a cada minuto.
A Wattecnica, fundada em 1976, desde o início era especializada na produção de balanceadores eletrônicos industriais. Sua sede, naquela época, ficava no bairro da Penha, na cidade do Rio de Janeiro. Um dos poucos registros do curioso acessório que tivemos acesso na imprensa foi o anúncio na revista Quatro Rodas nº 210, de janeiro de 1978. Neste anúncio, o consumômetro é apresentado como um “minicomputador instalado em qualquer parte do painel do seu automóvel que, enquanto você dirige, mostra em um visor digital o consumo do seu carro diretamente em km/litro”.
O valor médio indicado no anúncio, para o acessório, era de Cr$ 4.500,00. Sabemos o quanto é complicado estimar esse valor para os dias de hoje. Principalmente em uma época de inflação galopante – o ano de 1978 terminou com um índice de 40,81% de inflação acumulada. Mas para efeito de comparação, fizemos uma busca por acessórios nos jornais do mesmo mês do anúncio da Quatro Rodas. E como exemplo a ser citado, um Motorádio, sem toca-fitas, poderia variar em média entre Cr$ 1.000,00 e Cr$ 1.500,00 nas lojas do ramo. Já nos eletrodomésticos, o Consumômetro produzido pela Wattecnica tinha o valor equivalente a uma geladeira média, de apenas uma porta (os refrigeradores de duas portas custavam aproximadamente o dobro).
A matéria sobre o consumômetro Wattecnica no Jornal do Brasil
Na sua edição do dia 18 de julho de 1978, o Jornal do Brasil trazia em sua página 4 do Caderno B, a reportagem “Consumômetro ajuda a gastar menos gasolina”. O texto, acompanhado da foto do aparelho instalado sob o painel de um Passat, explicava não apenas o seu funcionamento, mas também contava as dificuldades da Wattecnica junto aos órgãos do governo para viabilizar o projeto do consumômetro, em plena época de racionamento de combustíveis. Como é curioso, e triste, notar que nada mudou desde então, sob esta ótica.
“A curiosidade de Bela Edomer, um dos sócios da Wattecnica, empresa fabricante de balanceadores eletrônicos industriais, foi o ponto de partida para o surgimento do consumômetro, aparelho digital que fornece, a cada 60 segundos, o consumo de combustível de um automóvel.
Não se trata de um economizador de gasolina, como tantos que já existem no mercado. O consumômetro não economiza, mostra quando o combustível está sendo consumido exageradamente. Ensina, portanto, o motorista a dirigir de modo econômico.
O aparelho é formado por três peças distintas: a primeira – medidor de espaço – é um sensor colocado no velocímetro para informar o espaço percorrido pelo veículo; a segunda – medidor de vazão – é adaptada ao duto de combustível e se responsabiliza pela informação do volume de combustível consumido; a terceira – minicomputador digital – colocada junto ao painel de instrumentos, interpreta as informações das duas primeiras e apresenta o resultado em km/litro no seu visor digital a cada minuto.
Para colocá-lo em funcionamento, basta girar para a direita o botão de comando na parte frontal do visor, que serve, também, para regular a intensidade da luz dos algarismos. Daí o aparelho passa a dar, de minuto a minuto, o consumo do carro nas mais diferentes situações que ele enfrente, sempre com um máximo de precisão.
Tudo começou quando Bela Edomer quis descobrir quanto seu carro estava gastando de gasolina. Depois de muito estudar, partiu para o projeto de um aparelho que só ficou pronto em janeiro de 1977. O protótipo somente foi concluído em março, devido às dificuldades iniciais para aquisição dos componentes.
Mas, ao final, tudo saiu como era esperado, e Edomer pôde ficar sabendo o consumo real do seu automóvel. Foi aí que surgiu a ideia de fabricar o consumômetro para venda, pois o equipamento poderia ser de muita utilidade para ensinar o motorista a economizar gasolina.
O primeiro passo era conseguir o ferramental. Eram necessárias 15 ferramentas especiais para começar o trabalho. A coisa se complicou e ficou tão difícil que, para não perder tempo, o próprio pessoal da Wattecnica teve que projetar e executar algumas dessas ferramentas. Somente em julho o ferramental ficou pronto.
O lançamento do consumômetro foi previsto, em princípio, para agosto e sua comercialização começaria em dezembro.
Mas vieram novas dificuldades. Nenhum órgão governamental – exceção do Banco do Brasil que andou dando um pouco de apoio – ajudou em nada. Não havia verba nem para fazer uma pequena divulgação, e tudo teve que caminhar a passos lentos.
A falta de experiência dos fabricantes na produção em série e os problemas iniciais para conseguir componentes atrasaram bastante o plano de comercialização que, só este ano, começou a ganhar terreno.
Novas dificuldades surgiram e, outra vez, tudo voltou a se processar lentamente.
Apesar de já ter sido mostrado a algumas autoridades e exibido nas Feiras de Eletroeletrônica, em São Paulo, e na de Utilidades Domésticas no Rio, com grande sucesso, o consumômetro ainda não conseguiu despertar a atenção de algum órgão governamental que possa oferecer incentivos para produção em larga escala.
A Wattecnica já recebeu várias cartas de todo o Brasil e algumas do exterior, solicitando inscrição para revendedor. Já chegaram, igualmente, algumas propostas do exterior para exportação do aparelho.
O Cônsul do Brasil em Milão fez uma pesquisa de mercado e informou que os italianos mostraram grande interesse em importar o consumômetro.
Os fabricantes do aparelho estão tentando conseguir um financiamento junto ao Governo para expandir sua produção e suprir os mercados interno e externo.
O consumômetro está sendo testado pelo Touring Club do Brasil e, até agora, os resultados foram bem satisfatórios, o que poderá levar à assinatura de um convênio para a colocação do aparelho em todos os postos dessa entidade.
Para a colocação do consumômetro, em qualquer marca de automóvel, são gastos de 40 a 90 minutos e o aparelho pode ser transferido de um carro para outro, mesmo de marcas diferentes, com apenas ligeiras modificações ou, até mesmo, mediante uma simples regulagem.”
Não conseguimos apurar até quando o consumômetro foi produzido e comercializado, ou mesmo se as vendas para o exterior e o relatado possível convênio com o Touring Club do Brasil se concretizaram. Atualmente, a Wattecnica continua se dedicando a produção de balanceadores industriais, tendo se mudado para a cidade serrana de Teresópolis, a aproximadamente 90 km de sua sede inicial, na zona norte carioca.
Tentamos contato com a Wattecnica através do formulário eletrônico em seu site, informando sobre o objetivo de fazer esta matéria, porém não obtivemos resposta. Sabemos, por experiência própria com a Home-Page do Passat, o quanto o envio dos formulários podem vir a falhar. Portanto, caso algum representante da empresa queira adicionar informações, deixe um comentário neste post que entraremos em contato. Quem sabe não conseguimos descobrir um pouco mais sobre esta história ou mesmo se ainda existe um Consumômetro Wattecnica esquecido, dentro da embalagem, em algum cantinho da empresa…