Cidadão do Mundo: Passat no Japão

E vamos ressuscitar o blog depois de bastante tempo… Mesmo na era das redes sociais, não dá pra deixar esta área da Home-Page do Passat de lado. Então recomeçaremos com um assunto bem interessante para adicionarmos mais um pouco de história por aqui: um Passat no Japão.

O Passat no Japão

A exportação do Passat para o Japão não é uma novidade. Há alguns folders de época que mostram que alguns modelos da Volkswagen eram comercializados naquele país na década de 70: Fusca, Kombi e Golf, por exemplo. Estes modelos eram produzidos na Alemanha e levados para a Terra do Sol Nascente com as devidas modificações exigidas, sendo a mais importante delas a direção do lado direito.

Temos registros de anúncios do Passat no Japão entre 1974 e 1977, mas não sabemos se o modelo B1 foi comercializado por lá depois disso. Uma curiosidade é que os catálogos de 1975 a 1977 trazem imagens do Passat com um enorme emblema da Volkswagen na grade, enquanto o de 1974 traz a imagem com o emblema de tamanho normal. É importante lembrar que o Santana também foi vendido por lá, entre 1984 e 1990 (e pela Nissan!).

Páginas do catálogo de 1974 do Passat destinado ao mercado japonês.
Páginas do catálogo de 1974 do Passat destinado ao mercado japonês.

Porém, o que nós não havíamos encontrado, ainda, era um sobrevivente por lá. Mas não mais do que por acaso meu amigo Artur Yamamura – cujos textos por aqui fazem falta – me envia o link para o anúncio de um curioso Daihatsu Mira Michito 1993 a venda em um site japonês. Sim, modelos esquisitos me fazem perder um tempo precioso na internet…

Aproveitei o site, e a tradução do navegador, para fazer uma rápida busca por algum Passat perdido por lá, mesmo que quase totalmente sem esperanças. E, enfim, encontrei o anúncio que eu tanto esperava: um Passat LS 1974 anunciado pela loja Resense (que tem a maior parte do seu estoque formada por carros europeus), na cidade de Ōita.

Para tentarmos nos localizar, Ōita fica situada na Ilha de Kyushu, ao sul do Japão, e foi uma das primeiras cidades japonesas a estabelecer contato com os europeus, sobretudo os portugueses. Para nós, a cidade talvez seja mais conhecida por ter recebido três jogos da Copa do Mundo de 2002. O mais marcante foi a partida das oitavas de final entre Suécia e Senegal, onde o país africano venceu os suecos por 2 tentos contra 1. Senegal foi eliminado na fase seguinte pela seleção da Turquia. Mas apesar de ter boas lembranças da equipe de Papa Bouba Diop, que estreou naquela Copa com uma vitória histórica sobre a França, então campeã, esse não é um papo para o nosso blog.

Então, retornando ao Passat… O modelo 1974 recebia algumas alterações para o mercado japonês, como já mencionado no início do post. Além do já citado volante do lado direito, é possível notar também o repetidor das setas nos para-lamas dianteiros, que não existia na Alemanha nesta época.

Usando um folder de 1974 destinado ao mercado japonês, que você pode ver algumas páginas no início deste post, a única versão por lá nesse ano era a LS, com 2 ou 4 portas. O motor era o nosso conhecido BR 1.5, com opção de câmbio manual ou automático. O modelo Variant também estava disponível. Os pneus poderiam ser 155 ou 165 (não ficou claro, no folder, o critério para uma ou outra opção), nas rodas aro 13” de tala 4,5”.

 

Passat LS 1974: o único sobrevivente?

O carro anunciado pela Resense tem um belo tom de azul, semelhante ao nosso Azul Danúbio, e possui alegados 165.000 km rodados. O valor pedido é de 1.980.000 ienes, o que dá, pela cotação do dia da publicação deste post, aproximadamente R$76.000,00. Não sei como é o mercado de carros antigos por lá, mas para efeito de comparação, um Golf Cabriolet 1993 está anunciado por 2.880.000 ienes, enquanto um Corrado 1993 com 28.000 km pode ser adquirido por 4.680.000 ienes. Um veículo de valor parecido com o Passat, que encontrei anunciado na mesma loja, foi um Saab 900 Turbo 16S, ano 1992, por 2.180.000 ienes.

Cidadão do mundo: Passat no Japão

O aspecto geral do Passat é bom, assim como o índice de originalidade é até interessante, apesar de algumas modificações que vamos citar. Tem jeito de ter sido realmente utilizado durante bons anos, pois apresenta alguns pequenos amassados, principalmente no para-choque traseiro. Este ar de uso acaba proporcionando um certo charme ao exemplar e fico imaginando as histórias que já se passaram com ele ao longo de 5 décadas.

Cidadão do mundo: Passat no Japão

Externamente, o Passat surpreende ao exibir faróis e lanternas originais Hella. A grade e os frisos, aliás, aparentam estar em excelente estado. E vamos lembrar que, em alguns modelos produzidos na Alemanha, o friso dianteiro é, assim como os nossos TS, fixado na lataria do carro e não na grade. E falando em frisos, todos estão no seu devido lugar, incluindo os frisos dos vidros. Um detalhe importante é a presença da grade plástica inferior do lado direito e a entrada de ar do filtro voltada para a dianteira do carro, assim como nos modelos brasileiros dos primeiros anos.

Os pneus, agora com largura 175, substituíram os de medidas originais. As calotinhas, iguais às do modelo brasileiro, também não estão lá. As rodas, porém, se mantém as originais de tala 4,5”. Os repetidores de seta também estão lá, como não poderiam faltar nos exemplares exportados para o Japão. Por fim, os retrovisores foram trocados por outro modelo.

Já do lado interno, os bancos foram forrados seguindo o mesmo desenho, porém com o acabamento azul. As forrações laterais parecem ser as originais. O painel já sofreu bastante e apresenta rachaduras e empenamento, assim como o volante de fábrica já não equipa mais o carro.

Outro ponto importante é a adaptação de um outro porta-luvas no painel. Provavelmente não foi possível encontrar outro porta-luvas de Passat, tão comum por aqui, para a substituição, sendo necessário usar a mesma peça de outro carro. É algo simples, mas que mostra como pode ser difícil manter um carro tão diferente. Já o motor, ainda é o original, com algumas poucas alterações possíveis de notar pela foto, como cabos de vela coloridos e talvez uma bobina moderna.

Painel rachado, volante e porta-luvas trocados: sinais de que manter um Passat original no Japão não é uma tarefa fácil.
Painel rachado, volante e porta-luvas trocados: sinais de que manter a originalidade de um Passat no Japão não é uma tarefa fácil.

Acredito que muitas dessas mudanças foram feitas até mesmo pela dificuldade de ter os itens originais por lá. Afinal, é um modelo bastante raro por aquelas terras e quem sabe em que época essas alterações foram realizadas? Hoje tudo é mais fácil com a internet, mas até alguns anos atrás a dificuldade era bem grande e, se o objetivo era simplesmente manter o carro funcionando bem e a originalidade não estava em primeiro plano, o planejado foi cumprido. Quer ver mais detalhes? No final do artigo temos uma galeria com mais imagens!

Este Passat pode não ser 100% original, mas carrega consigo décadas de histórias — e, quem sabe, ainda tenha muitas estradas pela frente no Japão. Se algum leitor já avistou outro exemplar anunciado por lá, compartilhe nos comentários. Afinal, todo cidadão do mundo merece ter sua história contada.

Nota: Enviamos um e-mail à loja Resense buscando detalhes sobre a história deste Passat — quantos foram importados, quantos restam no Japão — mas até a publicação deste post, não obtivemos resposta. Caso surjam novidades, atualizaremos aqui!

 

Galeria de imagens – Passat no Japão

Sobre André Grigorevski

Fundador da Home-Page do Passat e presidente do Passat Clube - RJ.

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